OPINIÃO: O que esperar da música gospel em 2020?

Por Aleckson Marcos

Duas décadas já se passaram desde o temido ano 2000 e, a partir de então, temos a impressão de que o tempo passa mais rápido, as mudanças acontecem de forma menos espaçosa e as transformações no mercado da música ocorrem em um ritmo veloz, de modo que quase não há mais estabilidade em um estilo musical específico, tornando imprevisível qualquer modificação que aconteça.

Como estamos na “era da velocidade”, instabilidade é um conceito inerente à nossa realidade e, em se tratando de música, o mesmo se aplica, visto que pouquíssimos – ou nenhum – artistas conseguem se manter em destaque atuando apenas no estilo em que começou a carreira. Todos se sentem impulsionados a aderir aos apelos das novas tendências, sob pena de serem apagados dos palcos. O problema maior talvez nem seja a mudança em si, mas a velocidade em que acontecem, pois mudanças – até mesmo profundas -na nossa música sempre houve, basta ver o rock rebelde de Janires, a sofisticação do grupo Logos e os agitos do reggae de Mattos Nascimento. Porém, modificações que levavam mais de uma década para se concretizar, hoje, ocorrem da maneira mais imprevisível que se imagina.

Considerando isto, é possível imaginar um cenário já conhecido em 2020, que começa com o enfraquecimento do sertanejo, mesmo que no mercado secular a tendência é ficar em alta por mais alguns anos. Manter uma dupla nesse estilo, fica cada vez mais inviável, levando a dissolução de figuras bastante conhecidas, como Os Levitas, Zé Marco & Adriano, e até mesmo a desistência, como a de Ravel Cruz. Apesar de o sertanejo universitário ser dominante no mercado popular, é notório o seu enfraquecimento no meio gospel. Outra tendência cada vez mais forte é de artistas sertanejos se aventurarem em outros estilos, como o Pentecostal, coisa que a Mara Lima começou a fazer em meados de 2000 e acabou exercendo e enorme influência em seus colegas.

Artistas antigos, como a dupla Tony e Tito, já apresentam novidades na carreira e sinalizam entrar de cabeça no mundo dos EP’s e singles. Já Suellen Lima, que teve enorne popularidade no sertanejo, já começa a experimentar novos estilos, mantendo uma carreira sempre dinâmica e atual.

Por falar em Pentecostal, (convém ressaltar que o estilo nada tem a ver com a Doutrina Pentecostal), há uma tendência de que se mantenha por mais tempo, mesmo que mais fraco em relação há 10 anos. Nomes como Shirley Carvalhais, Rose Nascimento, Cassiane e Lea Mendonça ainda exercerão uma representatividade enorme no meio, mesmo que outras, como Bruna Karla, já comecem a lançar raízes em outros solos. Convém destacar também a enorme e meteórica popularidade de Midian Lima com seu estilo pentecostal mais trabalhado, mostrando que ainda há muito espaço para esse estilo. E falando novamente em Shirley Carvalhais, a cantora entra o ano de 2020 com a popularidade muito além do esperado nos streamings e nas rádios de todo o país, renovando o seu público e mostrando que é possível se adaptar às variações do mercado.

Outro dado importante é o crescente número de seguidores no Facebook e Instagram dessas cantoras, demonstrando que ainda têm muita influência nesse nicho.

E sobre o rock? Se estamos falando de mudanças, creio não ser exagero afirmar que dificilmente o rock se reerguerá nos próximos anos, basta conversar com qualquer adolescente ou jovem se conhecem alguma banda desse segmento da atualidade que dificilmente você terá resposta positiva, pois o rock deixou de ser popular e voltou a ser underground.

Bandas, como Metal Nobre, Fruto Sagrado e Katsbarnea, quando não encerraram definitivamente suas atividades, já não consideram mais o rock sustentável e prioritário. Essa mesma tendência é notória no mercado popular, porém ainda há algumas pouquíssimas bandas que realizam um valioso trabalho de resistência e consolidação em face das novas tendências, como é o caso de Resgate e Novo Som, que, aliás, se considera uma banda pop, mas que não deixa de lado as origens rock’n’roll. Na tentativa de renovar seu público e manter-se visível no grande mercado, o grupo carioca já anunciou parcerias com artistas fora do rock ao passo que fortalece o estilo quando Alex Gonzaga firma parceria com PG. Convém destacar o valioso esforço que a banda Sinal de Alerta vem fazendo na tentativa de se manter presente nas mídias digitais, lançando singles e mergulhando nos streamings, porém se não houver o interesse de alguma gravadora não conseguirão voos maiores.

Um fato ainda mais sombrio para os amantes do rock é quantidade de bandas que morrem no nascedouro. Bandas, como Megafone e Adorelle, rapidamente ganharam prestígio entre adolescentes nos últimos 5 anos, mas não tiveram como levar adiante a carreira com a mesma pujança. Paradoxalmente, outro fato curioso, no entanto, é o crescimento desse segmento na Igreja Católica, levando nomes como Rosa de Saron e ID2 a se destacarem até mesmo entre evangélicos, que não encontram mais – e parece que não encontrarão tão cedo – nenhuma banda ou artista minimamente interessante que faça jus ao rock.

Tudo indica que o Worship Music ainda seguirá em alta não apenas em 2020, mas também pelos próximos anos, tendo em vista que se trata não apenas de música, mas de um estilo de culto, liturgia e ambiente. Ao lado do Pentecostal, o Worship é presença confirmada na maioria dos templos evangélicos do Brasil, mesmo entre os mais conservadores.

Nomes importantes, como Bruna Karla, já ensaiam uma adaptação ao estilo e o crescimento de Juliano Son, Casa Worship e, principalmente, Isadora Pompeo indicam que esse segmento será mais duradouro e dominará os púlpitos e o streaming em 2020, considerando a tendência de cultos cada vez mais emocionais, que é um ambiente perfeito para essa perpetuação.

As plataformas digitais e de streaming já são uma realidade e dela não temos mais como fugir, indicando que qualquer artista, estreante ou veterano, que não se adaptar à tecnologa ficará de fora do mercado e perderá a visibilidade. Esse desafio é maior para quem está na estrada há anos acostumado com a experiência do LP, Fita K7 e CD e agora se depara com um mercado não tangível. Porém, as dificuldades vão além das mídias digitais, pois envolvem o tipo de música que se canta, bem como a abordagem do conteúdo, isto é, letras com apelo cada vez mais horizontal, mas parece que artistas veteranos não estão dispostos a embarcar nessa onda.

Ainda assim, muitos surpresas acontecerão, e podem esperar que alguma coisa boa será destaque em 2020, pois em meio a “tantas variações do mesmo tema“, para parafrasear João Alexandre, sempre surge um hit com boa letra, boa musicalidade e um tanto diferente do que comumente se faz, porém, não desanimando a geração oitentista, nunca mais teremos um “avivamento poético” como houve naquela época.

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