Histórias e Bastidores do Álbum “Janires e Amigos”

Passados dez anos da sua conversão, Janires Magalhães Manso queria comemorar, mas como? Era uma data importante pra ele, então pensou em fazer um evento e reunir amigos, mas ao conversar com o amigo e produtor Silas Lima (Banda Fé), surgiu a ideia de fazer a gravação de um LP ao vivo. Não seria o primeiro disco gravado “ao vivo”, como relata o historiador Salvador de Sousa, porém era um desafio muito grande pela falta de recurso.

O ano era 1983. O LP foi gravado em multicanais. Antes, era somente em 1 ou 2 canais no auditório da rádio Boas Novas. Aquele era um projeto muito ousado para alguém que não tinha condições financeiras nenhuma. Mas Janires tinha amigos que abraçaram o projeto e se doaram sendo voluntários na execução do registro.

A Banda Fé era a base que acompanharia Janires e suas canções com Silas Lima nos pianos, arranjos e produção, gravando milagrosamente em 8 canais. Jerônimo Nogueira Alves fez back vocal ao lado de Marcos Góes e Natan Brito. Sidnei Amaro fazia a bateria e no baixo estava o David Moura, o “Batatinha”. Jetro era o gênio dos teclados, e assim tinham o embrião do projeto.

O SHOW

Apesar de falar do evento com propriedade, se engana quem pensa que eu estava envolvido diretamente. Apenas presenciei o momento histórico, sem saber que aquela era a última vez que eu iria ver Janires cantando com o Rebanhão ou solo. (Janires havia saído oficialmente do Rebanhão, porém mais tarde descobririamos que ele se envolveria na obra missionária em BH, com o MPC, que resultou na formação da Banda Azul).

O clima era de muita euforia e marcado o evento para as 19:00, iniciou as 20:40. Janires no palco com Rebanhão e um menino ao lado (era Wagner Carvalho, filho do maestro Waldenir Carvalho), cantando com Ed Wilson. Entretanto, a música não ficou boa (para eles) e tiveram de tocar novamente. Com Rebanhão ainda no palco, gravaram Arca, uma canção que faz o estilo “Festa de Arromba Evangélica” citando o nome de vários cantores, bandas e pastores da época. A noite prometia, pois, Janires estava acompanhado da Banda Fé. É importante mencionar que a Banda Fé foi o primeiro grupo musical evangélico a se intitular como “Banda”, pois, até então eram chamados de “Conjunto”. Por isso, quando o Janires chama a Banda Fé pra tocar o clássico “Jesus Cristo Mudou Meu Viver” ele disse: “o pessoal da banda vai tocar com a gente…”.  Janires, então, tocou uma música em homenagem à Irmã Helena (Darlene Glória). Chamou o “atleta de Cristo”, o  Baltazar, e fez uma homenagem com uma música que tinha na introdução a locução esportiva de João Dourado. A galera vibrava a cada canção!
Era a vez do corredor de fórmula 1, Alex Dias Ribeiro, dar seu depoimento e ouvir a música que Janires compusera, “Alex, o Baixinho Voador“. Então, surge um dos momentos altos do evento: o paulista mais mineiro do grupo Vencedores por Cristo, João Alexandre, sobe ao palco pra cantar “Casinha” e introduz o solo de guitarra com a canção “Cidade Maravilhosa“, uma analogia de que a cidade maravilhosa é a que Jesus preparou. João Alexandre, assim como todos que participaram deste projeto, não apenas não ganhou nada em dividir sua arte, mas gastou dinheiro viajando de São Paulo ao Rio para apoiar o amigo.

Muito gente não sabe ou não se lembra, mas Paulo Cesar Graça e Paz, o grande agitador da época e comunicador que lançou inclusive o Rebanhão, tinha saído da rádio Boas Novas (RBN) e estava comandando um programa na Rádio Copacabana, recém comprada pelo bispo Macedo,  de 3 horas diárias nas tardes de segunda a sexta-feira. Com isso, Paulo César andava envolvido com os projetos da jovens da Igreja Universal e quando Janires o chamou pra cantar todos ficaram de pé, aplaudindo sem parar. Uma faixa surgia no alto da galeria com os dizeres: “PAULO, PAULINHO, PAULÃO, VOCÊ ESTÁ EM NOSSO (tinha um desenho de coração). PC, que iria cantar a música “Jesus Cristo Mudou Meu Viver“, não se conteve em lágrimas e, quando finalmente consegue falar alguma coisa, solta uns gritos: “ah!!! Ho!!!! Aaaaa!!!!” (estes gritos estão registrados  apenas no LP, pois quando masterizaram para o CD, cortaram).
“Minha saudação ao Janires, prazer estar aqui. Eu estava com muita saudades”, disse Paulo Cesar. Janires, vendo o estado emocional dele, interrompe, dizendo: “amém, Paulo. Fica aqui, vamos convidar o pessoal da banda (Bandafe) pra cantar com a gente essa música que mudou a minha vida, a vida do Paulo e pode mudar a sua vida também. Amém, amado?”

Alfa e Ômega, levou o clima da vigília de Bento Ribeiro para o show e teve até oração na música (Janires era ministro de louvor da Vigília de Bento Ribeiro). Teve também a música “Vamos Unir Nossos Corações“, que ele compôs a antiga RBN e s Canção da Mamãe, que se tornou um clássico do Dias das Mães nas igrejas. À noite, não poderia terminar de forma melhor: o clássico Baião cantando ao vivo com todo mundo acompanhando em ritmo de xote. Noite memorável!

Marcos Góes, além de participar como back vocal, assina a arte da capa do disco. Foram tiradas inúmeras fotos de todo o evento, porém Janires perdeu todas em um ônibus. Marcos Góes, que sempre andava com uma câmera, tinha seus registros do evento pessoais e graças a ele temos acesso a algumas imagens salvas.

O LP era chamado de Janires e Amigos, mas quando se tornou CD foi adaptado para Rebanhão Ao Vivo. Se você procurar no Google uma lista dos 100 melhores discos evangélicos de todos os tempos elaborado por críticos e jornalistas, Janires e Amigos está em segundo lugar, perdendo apenas para De Vento em Polpa dos Vencedores Por Cristo.

Por Ledinilson de Souza

4 thoughts on “Histórias e Bastidores do Álbum “Janires e Amigos”

  • 09/06/2020 em 00:50
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    Eu estava lá e vi de perto sou fruto dessa geração desses musicos com propósito. Fiz e faço de tudo para contribuir e honrar a honestidade ao amor pelo evangelho que aprendi com janires, Paulo César graça e paz e todos os outros daquele tempo. Sou esposo de: Roberta Lima É possível (veja no YouTube).

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  • 09/06/2020 em 15:40
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    Parabéns pelo valor historico desse documento, em momento oportuno darei mais alguns detalhes desse evento.

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  • 10/06/2020 em 08:03
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    Este texto escrito por Ledinilson a “enciclopédia da música evangélica” nos transporta para aquela noite, não tive o privilégio de estar, nesta data eu tinha apenas 12 anos de idade mas 10 anos depois ou estaria fazendo programa nesta mesma rádio e utilizando o disco, é um clima de nostalgia total!
    O importante ao ver esse texto é um projeto tão bonito sendo feito sem dinheiro de políticos ou interesses comerciais, Janires tinha a música e o reino de Deus no coração!

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